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segunda-feira, 21 de março de 2011

Reportagem da Revista ISTOÉ: Padres atletas

Em Fernando de Noronha, padre Glênio se apaixonou
pelo surfe: “A melhor onda é a de Cristo”
O melhor jogador de futsal da Europa dá expediente de túnica e estola em quatro paróquias da Diocese de Braga, em Portugal. No mês passado, em Kielce, na Polônia, sede da quinta edição do campeonato europeu dessa modalidade, desfilou de short, meião e camiseta da seleção portuguesa arrancando da defesa para o ataque com a bola entre os pés, fintando um, dois, três adversários e deixando os companheiros na cara do gol. Aos 34 anos, o português Marco Gil não se sagrou campeão do torneio, chamado de Champions Clerum, que reuniu 11 times de futsal formados apenas por sacerdotes católicos. Mas venceu a eleição de melhor jogador da competição e, de quebra, reforçou, com sua porção boleiro, a máxima decantada por ele e vários colegas de que o exercício da fé independe do uso da batina. “Mesmo jogando, somos párocos, mas o esporte quebra o gelo entre o sacerdote e os fiéis”, disse Gil, capitão da Seleção das Quinas e vigário judicial do tribunal metropolitano de Braga, à ISTOÉ. “O importante é não vivermos na clausura nem banalizar a nossa condição.”
Alguns anos atrás, os craques católicos portugueses convidaram os sacerdotes brasileiros a montar um time e participar do campeonato europeu como convidados, segundo o padre José Carlos Lino, coordenador da pastoral do esporte da Diocese do Rio de Janeiro. “Mas, incrível dizer isso, nós, brasileiros, não temos tradição no futebol de padres”, diz ele, que ainda batalha para formar uma equipe. Se em Portugal a Clericus Cup, o campeonato anual de futsal entre os religiosos, conta com dez agremiações, no Brasil, a prática de algum tipo de atividade esportiva raramente é feita em grupo – acontece de Norte a Sul de forma isolada.
Em Pernambuco, no arquipélago de Fernando de Noronha, o padre alagoano Glênio Guimarães Braga, 49 anos, caminha pelas areias das praias do Meio ou da Conceição de sandálias de dedo, protetor no rosto, bermudão, roupa emborrachada e pranchão a tiracolo há quatro meses. Em Caibi, a 600 quilômetros da capital catarinense, Florianópolis, o maratonista gaúcho Vanderlei Souza da Silva, 42 anos, à frente da paróquia de São Domingos, conta com dois treinadores – um para o desenvolvimento de velocidade e, outro, de resistência –, tem patrocinadores fixos e coleciona participações na maratona de Nova York, Roma e das meias maratonas de Paris, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Em Noronha, quando não está pegando carona em uma onda de três metros, o padre Glênio, locado na igreja Nossa Senhora dos Remédios, costuma realizar missas, às 18h, no alto do Morro de São Pedro, coroadas pelo pôr do sol e pela visão de 360 graus que o local propicia. Seus fiéis, muitos deles surfistas, acostumaram-se com o discurso em prol da saúde e contra as drogas do parceiro de esporte. “A melhor onda é a de Cristo”, afirma o sacerdote, que diz ter encontrado Deus nos surfistas. “Eles respeitam o mar, a natureza, sentem a paz divina. Não resisti ao embalo. É relaxante ficar em cima da prancha.”
Dá para imaginar a curtição que deve ser exercer a vocação sacerdotal produzindo endorfina e em meio a belezas naturais. “Se Jesus andou sobre as águas sem prancha, com ela é mais fácil”, brinca o surfista de Cristo. O padre corredor Vanderlei, porém, enfrenta uma verdadeira ladainha para conseguir liberação para disputar suas provas. “Ouço críticas, percebo ciúmes. Mais novo, quando comecei a treinar, um provincial chegou a dizer que eu tinha de escolher entre estudar para padre ou correr.” Em sua bagagem de competição estão sempre a “Bíblia”, um terço, uma túnica e a oração pelos atletas, criada e distribuída por ele nas provas. O religioso de Caibi corre semanalmente 150 quilômetros e já conquistou, segundo suas contas, 700 medalhas e 500 troféus – boa parte doada para os fiéis.
Só para se ter uma ideia do grau de excelência desse padre gaúcho, ele percorre 21 quilômetros (percurso de uma meia maratona) em 1h15. Marílson dos Santos, maratonista top nacional, faz o mesmo em 1h10. “Acredito que estou entre os dez melhores do País”, diz. Por conta desse excelente desempenho, neste mês ele foi relacionado para largar no pelotão de elite da meia maratona de Paris, com o número 56. Chegou na 186ª colocação entre 30 mil participantes. Foi o primeiro colocado entre os brasileiros – que somavam 300 naquela prova. Que Deus o abençoe. (fim)
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Nota de  www.rainhamaria.com.br

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