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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Carta MCC Março 2010 (127ª)

“Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16,24).

Muito amados irmãos e irmãs, solidários na caminhada quaresmal rumo à Páscoa da Ressurreição!

Desde o momento em que terminei de redigir a última carta mensal, a de fevereiro, e quase como uma decorrência das propostas da Igreja para uma fecunda caminhada quaresmal, e já vislumbrando as celebrações da Paixão de Jesus que ocorrem em março (Semana Santa: 28 de março, domingo de Ramos a 03 de abril, Sábado santo, Vigília pascal), procurei deixar que minha vida de discípulo missionário buscasse saciar sua sede numa fonte preciosa: a fonte que brota de um mistério; do mistério da cruz, ou seja, do mistério do sofrimento. Entre muitas outras, em mim nasceram, então, algumas indagações a partir deste mistério já oferecido por Jesus a quem se dispõe a seguir seus passos nos caminhos da vida. Que sentido tem a cruz ou o sofrimento na vida do Filho de Deus? Por outro lado, que sentido tem a cruz, ou seja, o sofrimento na vida do discípulo? Por que para o discípulo missionário de Jesus a cruz ocupa um lugar e um momento privilegiados na sua peregrinação terrestre? Ainda que não tenha pretensão de dizer nada novo a respeito, juntos, façamos uma pausa em algumas “estações” como numa curta via-sacra e reflitamos brevemente.


1.Primeira estação: a cruz na vida e morte do Filho de Deus. Trata-se de absorver um mistério. Mistério é algo que não encontra explicação dentro dos limites da inteligência ou da ciência humanas. Foge do natural. Não há como compreender que um Deus – Jesus, o Filho de Deus, Deus como o Pai e o Espírito Santo – venha carregar uma cruz e enfrentar sofrimentos, desde o seu nascimento até sua morte na mesma cruz. Só existe uma explicação, aliás, dada pelo próprio Jesus. Entre outras muitas, cito duas de suas próprias palavras: “Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mt 20,28). E a outra: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). É ou não é um mistério a cruz de Jesus? Tem alguma explicação humanamente plausível a não ser o amor de Deus Pai por suas criaturas? Cito um já conhecido autor místico de nossos dias, Anselmo Grun, que no seu livro “A Cruz”, afirma: “Por outro lado, a cruz é em João um sinal do amor de Jesus que nos amou até o fim, até os últimos extremos (cf.João 13,1). Por isso, a cruz colocada em nossas paredes deve nos lembrar sempre e em todas as circunstâncias em que estamos envolvidos pelo amor de Deus, que o amor de Deus se abaixa até a poeira de nosso dia a dia, para ali nos tocar e curar amorosamente em nossos aspectos mais vulneráveis. Nada está excluído desse amor de Deus. Dessa maneira, a cruz é um sinal de esperança, um sinal de amor”. 1


2. Segunda estação: o lugar ocupado pela cruz na vida do discípulo de Jesus. Não nos esqueçamos que estamos refletindo em tempo quaresmal, portanto, num especial tempo de conversão, de mudança, de transformação pessoal. Primeiramente, observemos os quatro elementos contidos na citação acima (Mt 16,24) oferecidos por Jesus: a) uma tomada de decisão; b) a renúncia; c) o abraço da cruz e, d) o seguimento. Em primeiro lugar, o discípulo ou aquele que deseja ser discípulo de Jesus, precisa tomar uma decisão firme e perseverante. De outra forma, não demorará a largar o arado. E, já sabemos: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus” (Lc 9,62). Depois, a renúncia, isto é, deixar tudo para trás, sobretudo tudo aquilo que atrapalha sua entrega, sua decisão - a começar pela renúncia a tudo o que contraria a proposta de Jesus no seu Evangelho. Em seguida - e aí está o centro da proposta do Mestre – abraçar a cruz. Jesus não diz que devemos abraçar a cruz dEle, a “minha cruz”, mas a “sua”, a nossa, a de cada um. Aliás, parece que vivemos dela nos queixando e lamentando pelo seu peso e pelo incômodo! A dEle não podemos carregar, simplesmente porque nela pesaram todos os pecados do mundo e de toda a humanidade desde os inícios até o fim dos tempos. Só os ombros de Jesus foram capazes de aguentá-la. Finalmente, seguir os passos dEle durante toda a vida. Só mesmo cada um, cada uma, cada pessoa saberá onde Jesus está pisando para poder segui-lo. Todo este tempo de Quaresma é propício para enxergar o caminho. A cruz será o nosso GPS!


3. Terceira estação: a sintonia da cruz do discípulo com a cruz do Mestre. Desde os meus velhos tempos de estudo da teologia, mas, sobretudo na entrega ao ministério sacerdotal, tentei apreender e aprender o sentido da participação do cristão nos sofrimentos de Cristo. É nas Cartas de São Paulo aos Filipenses e na Primeira de São Pedro que fui buscar, muitas e muitas vezes, aquela sintonia que não só consola o seguidor de Jesus mas abre horizontes ilimitados de participação nos sofrimentos dEle para, com Ele, participar da redenção do mundo. São Paulo chega a dizer que é através dos sofrimentos que se pode chegar não só a conhecer Jesus, como, até, ser semelhante a Ele: “É assim que eu conheço Cristo, a força da sua Ressurreição e a comunhão com os seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na sua morte...” (Fl 3,10). De que mais precisamos para aceitar e assumir a nossa cruz de cada dia com entusiasmo e não já com um conformismo vazio? Mas, tem mais e com igual ou maior força: “Alegro-me nos sofrimentos que tenho suportado por vós e completo, na minha carne, o que falta às tribulações de Cristo em favor do seu Corpo que é a Igreja” (Cl 2,24). Confesso-lhes que esta corajosa e, até, ousada afirmação de Paulo tem servido não só para meu encorajamento pessoal e para renovação do meu entusiasmo e entrega, mas para consolar milhares de pessoas no decorrer de minha peregrinação sacerdotal! De fato, o que faltaria “às tribulações de Cristo”? Nada. Absolutamente nada. Paulo não acha assim. Pois ele afirma que cada um dos discípulos de Jesus aporta sua cota de sofrimentos que, como pertence a cada um, é, digamos, adicionada à cruz de Cristo “em favor do seu Corpo que é a Igreja”.


Nesta mesma estação na qual estamos contemplando a sintonia da cruz do discípulo com a cruz do Mestre e para encerrá-la, não posso deixar de citar o Apóstolo Pedro na sua Primeira Carta: “Pelo contrário, alegrai-vos por participar dos sofrimentos de Cristo, para que possais exultar de alegria quando se revelar a sua glória. Se sofreis injúrias por causa do nome de Cristo, sois felizes, pois o Espírito da glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vós” (1Pd 4,13-14). “Participar dos sofrimentos de Cristo”, portanto, nada mais é do que “renunciar a si mesmo, tomar sua cruz e segui-lo”!


Meus caros irmãos e irmãs, junto com Cristo e Ele assemelhados pela cruz, prossigamos com coragem e com muita esperança nossa via-sacra quaresmal rumo à Páscoa da Ressurreição. Grave bem no seu coração a palavra de Paulo que repito para terminar: “Alegro-me nos sofrimentos que tenho suportado por vós e completo, na minha carne, o que falta às tribulações de Cristo em favor do seu Corpo que é a Igreja” (Cl 2,24). E mais: façamos de nossa cruz uma cruz de comunhão com a cruz de Jesus, uma cruz de parceria com as cruzes de nossos irmãos e irmãs para a salvação do mundo, hoje. Vamos acabar dando-nos conta que a nossa cruz, parecendo-nos demasiadamente pesada, será sempre muito mais leve que a cruz dos demais!


Um carinhoso abraço fraterno do amigo e irmão, companheiro na Via-sacra de nossas vidas, assemelhados a Cristo e à Mãe das Dores, Maria.


Pe. José Gilberto Beraldo

Assessor Eclesiástico Nacional

E-mail: beraldomilenio@uol.com.br

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