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quarta-feira, 26 de maio de 2010

SOBRE CORPOS ESTRANHOS INTRODUZIDOS NO CURSILHO (2)


Pe. José Gilberto Beraldo
Assessor Nacional MCC
Tenho chamado de “corpos estranhos” tudo o que veio sendo introduzido nos três
dias do Cursilho à revelia dos seus objetivos e dos meios para alcançá-los. Assim, no
primeiro artigo desta série, tratei de analisar a inoportunidade das tais mensagens
entregues aos montes aos participantes do Cursilho, bem como a interferência indébita
das mesmas num momento tão delicado e íntimo, momento de decisão pessoal e
intransferível pelo qual está passando o cursilhista.
Nesse mesmo contexto, levanto outra indagação, agora sobre o assim chamado
“folclore” (termo, a meu ver, inteiramente desfocado no caso dos Cursilhos). Por que
cantar durante o Cursilho? No que consiste, para o cristão, a verdadeira alegria?
Continuam ainda alguns a crer que o canto deveria ir aumentando de intensidade de
seus decibéis à medida em que progridem os três dias... Isso teria por objetivo contribuir
para aumentar o “entusiasmo” e a “alegria”, até chegar a uma espécie de êxtase na noite
do terceiro dia, o que vale dizer, no Encerramento. O tom com que cursilhistas e
dirigentes “bradam” o De Colores seria, dizem, o termômetro do entusiasmo, da alegria ,
da entrega e até da profundidade da conversão de todos. E se fosse cantado em
espanhol, o poder de contágio exercido pelo De Colores seria muito maior passando a
idéia aos presentes de que houve “conversão” em massa, mesmo que “cantar” não fosse
o forte de todos...
Primeiro quanto ao De Colores. Ao lado de interpretações sensatas, acabou por se
criarem alguns absurdos como o de considerar o De Colores o hino oficial do Movimento
de Cursilhos. Aliás, sobre o De Colores assim se expressa o próprio iniciador do MCC, D.
Hervás: “De Colores é o título de uma canção popular espanhola dos anos 40 que se
iniciava exatamente por estas duas palavras e se tornou famosa entre os cursilhistas.
Alguns pretenderam dar-lhe a importância de um ritual, ou de um simbolismo e, até, de
certa forma de expressão do estado de consciência: “De Colores” significaria “estado de
graça”. Todavia essa não foi a intenção primeira. Era simplesmente uma canção popular
muito em voga entre os jovens nos dias iniciais dos Cursilhos, de letra simples e até
ingênua, que foi empregada como meio de descontração. E nada mais do que isso”. Até
aqui D. Hervás, desmistificando o De Colores.
Afinal, para que serve o canto num Cursilho? Simplesmente e sem maiores
complicações, para: a) para fixar o conteúdo da mensagem (daí porque ocorre antes ou
depois dela); b) para descontrair, sem distrair; c)para conscientizar sem levar à alienação;
d) para facilitar um clima de sã alegria sem excessos, muito menos, sem cair na
ingenuidade ou no ridículo. Por tudo isso compreende-se a necessidade de os cantos
serem pertinentes, oportunos e condizentes com as mensagens que foram ou serão
proclamadas; de serem músicas e letras cujo conteúdo facilite não só a compreensão de
cada uma das mensagens, como também ajude a criar clima interior propício para a
conversão e o compromisso com a prática da Palavra de Deus e com as opções
prioritárias de nossa Igreja Católica no Brasil. A propósito: nos “tempos fortes” de
evangelização na Igreja (Campanha da Fraternidade, na Quaresma ou Advento e outros)
por que não usar os respectivos cantos na celebração das Missas, nos Cursilhos?
Nessa linha, além de já podermos contar com uma série de cantos e canções
bastante variada e de ótima qualidade e oportunidade (vejam-se os inúmeros exemplos
contidos nas publicações de cantos pastorais), fazem-se necessárias criatividade e
adaptação inteligente, nunca esquecendo da palavra de Jesus: “Nem todo aquele que me
diz ‘Senhor! Senhor!’ entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que põe em prática a
vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7, 21). Assim, e dando um exemplo banal,
em nenhum momento do Cursilho e em nenhuma mensagem deveria existir preocupação
com “a igreja que sobe ou com o céu que desce ou com anjos que voam para cima e para
baixo e por todos os lados...” A Igreja foi pensada por Cristo e teve seu tempo iniciado no
dia de Pentecostes para ter os pés fincados aqui na terra e estar comprometida com a
História onde continua a missão libertadora e redentora do Senhor Jesus. Para isso são
chamados os que desejam ser seguidores de Jesus. E, por falar nisso, é bom que a
gente recorra a um documento normativo do Papa João Paulo II sobre a “missão e
vocação dos leigos na Igreja e no mundo” (Christifideles Laici, 1987). Ali, num dos
‘critérios de eclesialidade’, critérios pelos quais devem pautar-se todo ‘movimento ou
associação de fiéis leigos’, ensina o Papa: “...o empenho de uma presença na sociedade
humana que, à luz da doutrina social da Igreja, se coloque a serviço da dignidade integral
do homem. Assim, as agregações dos fiéis leigos devem converter-se em correntes vivas
de participação e de solidariedade para construir condições mais justas e fraternas no
seio da sociedade” (ChL 30). Nessa direção e na dos demais ‘critérios de eclesialidade’ é
que deveriam ser encaminhadas, a meu ver, todas as iniciativas e toda a dinâmica dos
Cursilhos, incluído aí o canto ou, se se preferir, o “folclore”.
Então, seria eu contra os assim ditos cantos de louvor e outros (sucessos de venda
em CDs. etc.) e que abundam na maioria quase absoluta de encontros e reuniões de
Igreja? Não, não sou contra. Sou, sim, a favor de que nos Cursilhos o canto seja
adequado à mensagem ou às mensagens que se estão passando aos cursilhistas.
Estou cada dia mais convencido, depois de meu longo ministério no MCC, de que a
autêntica alegria nos Cursilhos não está condicionada aos cantos por mais maravilhosos
e emotivos que eles sejam. A mais autêntica, espontânea e explosiva alegria, brota, isto
sim, da volta para a Casa e do encontro ou do reencontro com o Pai; do abraço
apaixonado, amoroso e terno do mesmo Pai rico em misericórdia; da acolhida fraterna e
solidária de uma comunidade orante e operante das coisas do Reino; do calor do Espírito
do Senhor consolando, inspirando e fortalecendo. É em momentos como esses que a
emoção nascida do mistério do amor e do perdão, toma conta e invade todo o ser de
homens e mulheres que se aventuram nessa jornada de volta que é o Cursilho. Ao
mesmo tempo louvando e agradecendo a Deus, mantêm os pés no chão da vida,
antevendo os desafios do compromisso na luta por uma sociedade fraterna, justa e
solidária. Retomando e resumindo: a verdadeira alegria e emoção, nos Cursilhos, devem
brotar do mistério do amor, da misericórdia e do perdão oferecidos pelas entranhas
misericordiosas do Pai.
Por último, é preciso não perder de vista que nos dias que correm, está-se
supervalorizando a música. Nada contra. Se esta é a marca registrada da nossa cultura,
não há porque não aproveitar o momento singular – inspiração, sem dúvida, do “Espírito
que sopra onde quer” (Jo 3,8) – para fazer chegar ao evangelizando a mensagem
libertadora e redentora do Senhor Jesus. Entretanto, uma coisa é fazer da música e do
canto um instrumento. Outra, completamente diversa, é tentar colocar nela toda a força
da mensagem, arrancando emoções e lágrimas que, geralmente, esvaem-se e secam ao
terminar a última nota do último canto do De Colores no último momento do
Encerramento. Momento esse que, se se resumir-se puramente em lágrimas e emoções
superficiais, será também o último no qual esse cursilhista vai aparecer! A longa prática
dos Cursilhos está a nos lembrar tudo isso!

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