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terça-feira, 25 de maio de 2010

SOBRE CORPOS ESTRANHOS INTRODUZIDOS NO CURSILHO - 1

Pe. José Gilberto Beraldo
Ao participar de um Cursilho pela primeira vez, em 1967, um dos seus impactos
mais significativos para mim - naquela época sacerdote já há quase dez anos - foi o
silêncio solicitado na primeira noite. Digo mal, não solicitado, mas como que imposto.
Com o passar do tempo, trabalhando em dezenas e dezenas de outros Cursilhos, é que
pude dar-me conta da importância e valor do silêncio naquele exato momento. Se você
for um dos responsáveis do MCC, você sabe do que estou falando.
Depois de tantos e tantos cursilhos, estou mais convencido ainda de sua absoluta
necessidade. Não já como imposição, mas agora mostrando claramente sua
oportunidade e necessidade. Aliás, técnicas atuais de meditação e interiorização, ainda
que nada ou muito pouco tendo a ver com esta ou aquela religião, estão valorizando o
silêncio e a meditação pessoal. Até empresas modernas têm introduzido a possibilidade
de momentos de silêncio. E o fazem com vistas a que? A que os funcionários
reencontrem seu ponto de equilíbrio para que a produção seja mais eficiente.
Pois bem: o silêncio que solicitamos na primeira noite do Cursilho parece seguir
uma tradição enraizada na espiritualidade espanhola, a dos Exercícios Espirituais de
Santo Inácio de Loyola. Parece que os iniciadores do MCC adotaram essa tradição que
visa a mostrar aos cursilhistas seus benefícios, estando no contexto do clima que
desejamos criar durante todo o tempo de duração do próprio Cursilho.
Ao sugerir que “nos afastemos do mundo” (agora prevendo, também, os sinais
sonoros ou vibratórios dos telefones celulares...) pretendemos dizer que qualquer
interferência externa poderia ser prejudicial num tão raro e importante momento na vida
de uma pessoa. Que é, sem dúvida, o momento do discernimento sobre sua opção de
vida e sobre os rumos que ela deverá tomar daí para a frente. Tudo o que vier de fora,
neste precioso “intervalo” na vida cotidiana do cursilhista, será, portanto, uma intromissão
indébita. Virá interferir nas decisões e projetos de vida do cursilhista. Virá, como
costumamos dizer, “quebrar o silêncio”, tradicionalmente ligado ao canto do de Colores
logo na manhã do primeiro dia. Não o silêncio de boca, mas o grande silêncio da
oportunidade que lhe é oferecida.
Num dos documentos referenciais do MCC lê-se que “o retiro da primeira noite (=
silêncio) é uma chamada... à autenticidade reflexiva e sincera, diante da realidade de
Deus, Pai do filho pródigo, que está se aproximando de nós... e nos contempla. Não é
outra coisa senão atualizar o costume e a atitude do Senhor que, antes dos grandes
acontecimentos de sua vida apostólica, se retirava e se preparava, durante a noite, no
silêncio e na oração.... o fim do retiro é predispor (o cursilhista) ao chamamento de Deus,
despertando uma atitude de busca e procurando que esta inquietação seja sadia, reta
sincera e esperançosa” (Cf “Ideário” p.83). Ora, naturalmente pode-se deduzir que tal
atitude será apropriada para durante toda a duração do Cursilho.
Neste contexto é que entra a introdução de alguns corpos alheios ao Cursilho e, por
isso, extremamente prejudiciais ao cursilhista. Um desses “corpos estranhos” são as tais
“mensagens”, cartas, cartões, bilhetinhos e outros recados coletados entre familiares e
amigos.
Provenientes do antigo costume de ler-se as “alavancas”, foram estas, pouco a
pouco, sendo entregues nas mãos dos participantes. Daí à entrega de bilhetes, de cartas
e de “mensagens” cujos conteúdos mais apelam à emotividade forçada do que favorecem
uma parada consciente do participante, foi um passo. Tem-se conhecimento de certo
GED que permite, a certa altura do Cursilho, a entrada de uma pessoa fantasiada de
carteiro que despeja, diante dos cursilhistas atônitos e “emocionados” um saco de
correspondência que traz às costas (acredite se quiser...). Acrescente-se que outros
movimentos, alguns até originados de nossos Cursilhos, levaram tal iniciativa ao exagero
tentando introduzi-la na origem. De forma que, em certos Cursilhos, enquanto alguns
recebem uma verdadeira enxurrada de mensagens, outros ficam “esquecidos”... Esse é
um dos aspectos nocivos dessa “invenção” estranha à dinâmica do Cursilho.
O outro, pior talvez e mais grave, está na introdução de elementos que em nada ou
em muito pouco ajudam a opção e o sério compromisso de conversão do cursilhista.
Opção e compromisso que ele deveria assumir, só ele mergulhado no silêncio de seu
coração, de sua mente e de todo o seu ser diante da misericórdia e do infinito amor de
Deus. Dê-se-lhe, por favor, um tempo! Deixemo-lo, pelo menos por algumas horas, dono
de suas próprias decisões! O homem e a mulher desta nossa tão controvertida
pós-modernidade têm necessidade de um pouco de solidão e de interiorização.
Ofereçamos um presente original a esses homens e a essas mulheres que estão
participando de um Cursilho. Ofereçamos a eles o grande, imenso, oportuno e precioso
presente do nosso silêncio solidário abstendo-nos de tais interferências. Deixemo-los,
finalmente, a sós com Deus! Pelo menos nestes três dias que podem ser decisivos!
Amanhã, tenho certeza absoluta, eles e elas haverão de nos agradecer!

1 comentários:

Telecentro-Senasp-Ilhéus disse...

Olá Padre Beraldo,

Eu me chamo Robson, sou cursilhista aqui em Ilhéus/BA.
Fiquei muito feliz com a vossa colocação, pois, é preciso mostrar sem impor, que os corpos estranhos são prejudiciais ao MCC. Digo isto porque não é fácil evangelizar a juventude. Eu faço parte do MCC há 09 anos, fiz o 4º Cursilho para Jovens da Diocese de Ilhéus/BA.
É preciso olhar o jovem com olhar jovem. Sei que muitas vezes somos impulsivos, estabanados etc, mas também somos dedicados, empenhados em fazer o melhor.
Há um bom tempo eu escuto falar dentro do Movimento que "emoção não faz parte", mas conseguir transformar a juventude sem tocar o coração é muito mais que complicado. Acredito que para se transformar o cérebro é necessário transformar o coração, o sentimento mais primoroso já vivido entre os homens "o amor", a partir daí, iniciemos o processo de formação propriamente dito. Não estou dizendo com isto que o processo de formação nos dois dias de cursilho deve ser esquecido, mas que somente ele não transforma.
É imprescindível que existam músicas nos cursilhos, canções que transmitam mensagens de vida, de amor, de transforma o mundo para melhor, de agir, de julgar menos e servir mais. Isto é possível sem perder a mensagem central do MCC, seu carisma.
Já ouvi até um integrante dizer: "isto não é ritimo católico" porque o folclore composto por jovens estava executando a musica em ritmo de forró, reggae. Diga-se de passagem que pela dimensão continental do país, existem lugares com diversas peculiaridades e sinceramente não acredito que um ritmo que não distorça a mensagem, não posso ser executa, acho que até ajuda.
Não é necessário ser conservador para cumprir o carisma do MCC.
Aproveito o momento Padre Beraldo para fazer-lhe uma consulta: se um Padre que estiver fazendo a mensagem "Um olhar sobre si mesmo" pedir para tocar somente com violão sem caixa acústica, sem aparatos tecnológicos uma música que servirá para auto-reflexão dos jovens, como "Caçador de mim" , de Milton Nascimento, é um entrave grotesco, um obstáculo "everestiano" ao carisma do MCC? Por fim, sinto-me feliz de poder contar com vossa sabedoria e apoio aos jovens cursilhistas.
Desejo imensamente que um dia possa vir participar conosco de um cursilho para jovens, conhecer a nossa realidade e emitir o que achar necessário acerca da forma como promovemos a evangelização através do MCC, que tenho eu a certeza de que estamos cumprindo o carisma, a mensagem e ao mesmo tempo tranformando cidadãos.
Abraço fraterno!!!

25 de maio de 2010 às 05:09

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