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terça-feira, 13 de abril de 2010

Carta MCC Abril 2010 – (128ª.)

“Pois vós morrestes e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória” (Cl 3,3-4). 
Muito amados irmãos e irmãs, participantes da caminhada rumo à Páscoa definitiva: permaneça viva em todos vocês a luz de Cristo acesa na festa da Ressurreição!
Depois de termos percorrido conscientemente os dias da Quaresma, vivendo a prática do jejum, da penitência, da esmola e da oração, estimulados e alimentados pela realidade da cruz de Jesus e das nossas cruzes também, sempre em sintonia com a dEle, chegamos à Ressurreição que, com Ele, queremos não somente celebrar numa única noite ou num só dia, mas viver intensamente a cada dia da vida. E, na celebração dos mistérios pascais, além de vivermos as alegrias da promessa de Jesus realizada, abrem-se para nós, os discípulos missionários de Jesus, os horizontes da glória já vislumbrados por São Paulo: “...vós aparecereis com ele, revestidos de glória”. Ao introduzir a celebração da Vigília Pascal, no Sábado Santo, o celebrante colocou em foco toda a dimensão da Páscoa exortando assim a comunidade: “Se comemoramos a Páscoa do Senhor ouvindo sua palavra e celebrando seus mistérios, podemos ter a firme esperança de participar do seu triunfo sobre a morte e de sua vida em Deus”.
Entretanto, ainda que conscientes da promessa desta vida futura (... aparecereis), de que maneira vivenciar, já agora, essas realidades? Como entender essa morte estando, ao mesmo tempo, “nossa vida escondida, em Deus”? Isto é, que sentido têm, para os seguidores de Jesus Ressuscitado, as celebrações pascais nos nossos dias? Diante dessas naturais indagações, permitam-me, irmãos e irmãs, oferecer-lhes alguns pontos para reflexão, sempre deixando-nos iluminar pela Palavra de Deus expressada por São Paulo aos Colossenses e, agora, a nós.

1. Uma crise de sentido. Com o simples lançar os olhos ao nosso redor e, mais ainda, imersos nós mesmos na cultura da nossa sociedade tão distanciada de Deus, é fácil perceber, mesmo porque o sentimos na pele, o desafiante problema da perda do sentido da vida e de suas manifestações as mais primárias e, até, dos seus símbolos, incluídos ai os símbolos nascidos da prática religiosa. O Documento de Aparecida, ao analisar o fenômeno da globalização, afirma que “Esta nova escala mundial do fenômeno humano traz consequências em todos os campos de atividade da vida social, impactando a cultura, a economia, a política, as ciências, a educação, o esporte, as artes e também, naturalmente, a religião” (DAp35). E continua: “Esta é a razão pela qual muitos estudiosos de nossa época sustentam que a realidade traz inseparavelmente uma crise do sentido” (DAp37). Isso acontece, de maneira particular para nós católicos, quando os nossos símbolos mais sagrados e as nossas mais sagradas celebrações são interpretados de forma absolutamente distorcida pela atual cultura de nossa sociedade. Por exemplo: o Natal se apresenta na estranha figura do Papai Noel, na quase obrigatoriedade dos presentes dados e recebidos como uma exigência da sociedade exageradamente consumista. E o que dizer, então, da Páscoa? Coelhinhos, ovos de chocolates cada vez mais caros e sofisticados e, por isso mesmo, ao alcance de alguns poucos, “colombas pascais”,etc., seriam uma ‘nova’ versão do profundo mistério pascal que deveríamos celebrar com os olhos, o coração e a vida voltados para o Senhor Ressuscitado? E os dias sagrados da Santa Semana transformados em ocasiões para viagens de descanso e de intensa exploração turística, agora, também, chamados de “feriadões da Semana Santa”? Referindo-se à religiosidade popular tão rica de simbologia e tão inserida na cultura dos povos latino-americanos e caribenhos, o DAP assim se expressa ao lamentar sua diluição: “No entanto, devemos admitir que esta preciosa tradição começa a se diluir. A maioria dos meios de comunicação de massa nos apresentam agora novas imagens, atrativas e cheias de fantasia... Longe de preencher o vazio produzido em nossa consciência pela falta de um sentido unitário da vida, em muitas ocasiões a informação transmitida pelos meios de comunicação só nos distrai. A falta de informação só se resolve com mais informação, retro-alimentando a ansiedade de quem percebe que está em um mundo opaco o qual não compreende” (DAp 38).

2. A vivência do autêntico sentido da Páscoa pelos cristãos de hoje. Nesse contexto, levanta-se uma pergunta fundamental: como voltar ao autêntico espírito do mistério da Ressurreição, o mistério fundante da nossa fé e, portanto, como nele imergir profundamente? É urgente, pois, que nesse contexto releiamos São Paulo na sua Primeira Carta aos Coríntios, cap.15,12-34. De fato, esses fenômenos são um desafio para nossa consciência cristã, apresentando-nos outra pergunta: como não nos deixar envolver pelo espírito pagão, para dizer o mínimo, que insiste em tomar conta da nossa mentalidade envolvendo-se na prática de nossa vida cristã? O segredo para que isso aconteça ou, melhor, as respostas que buscamos podem estar nas palavras de São Paulo que, motivando nossas reflexões, vêm em nosso socorro. E o tempo pascal se apresenta como um tempo privilegiado para que a própria Páscoa se prolongue em nossa vida. Reflitamos sobre alguns passos na nossa caminhada pascal: a) o primeiro passo para uma autêntica celebração pascal é termos a consciência de que “morremos (para o pecado) e a nossa vida está escondida, com Cristo, em Deus”. Não existe ressurreição sem cruz, sem morte, sem sepultamento. Como a cruz, a morte e o sepultamento de Jesus; b) o segundo passo é fazer a experiência de ter a própria “vida escondida, com Cristo, em Deus”. Trata-se da referência à gestação da nova criatura da qual também nos fala o Apóstolo e que exige de cada seguidor de Cristo despojamento e renovação: “Precisais deixar a vossa antiga maneira de viver e despojar-vos do homem velho, que vai se corrompendo ao sabor das paixões enganadoras Por outro lado, precisais renovar-vos, pela transformação espiritual de vossa mente, e vestir-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, na verdadeira justiça e santidade” (Ef 4,22-24); c) o terceiro passo é viver alimentando-se da Esperança. Diz-se que o cristão deveria viver da Esperança. Da Esperança da ressurreição prometida por Jesus aos seus seguidores: “Esta é a vontade de meu Pai: quem vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,40) Esse tempo da Ressurreição de Jesus, da Páscoa do Senhor, é o tempo próprio que Deus preparou para nós sabendo que “Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória” (Cl 3,3-4). E mais: “Eu sou a ressurreição e a vida. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais” (Jo 11,25); d) o terceiro passo é não nos deixarmos envolver por mensagens e símbolos que desvirtuam e subvertem o sentido da Ressurreição do nosso Salvador e Libertador, Jesus Cristo. Com efeito, esforcemos-nos para devolver aos nossos símbolos a sua sacralidade original. Não podemos mudar a cultura, mas podemos, sim, impregná-la de um novo sentido cristão através da inserção nela dos valores e critérios do Evangelho. Também não só as crianças de hoje, mas, sobretudo as de amanhã vão agradecer-nos por isto.

3. Páscoa, a festa da Luz. Não poderia terminar esta carta sem lembrar o símbolo maior da ressurreição de Jesus, a própria Luz de Cristo. Tendo iluminado a maravilhosa noite da Vigília Pascal, ela continua acesa no símbolo do Círio Pascal. Naquele momento único, o celebrante o acendeu dizendo: “A luz de Cristo que ressuscita resplandecente dissipe as trevas de nosso coração e nossa mente”. Ao desejar a todos um santo e luminoso tempo pascal, faço-o com as mesmas palavras da mesma Vigília e entoadas pelo diácono no Canto da Proclamação da Páscoa: “O círio que acendeu nossas velas possa esta noite toda fulgurar; misture sua luz à das estrelas, cintile quando o dia despontar”. E que Maria, sem dúvida a primeira privilegiada com a aparição do seu Filho Ressuscitado (embora não conste em nenhum dos Evangelhos), ajude a que nossos olhos se deslumbrem com a sua luz!
Fraterno abraço pascal do irmão, amigo e servidor,
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Pe. José Gilberto Beraldo
Assessor Eclesiástico Nacional

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