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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Carta MCC Fevereiro 2010 (126ª)

“Como colaboradores de Cristo, nós vos
exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus,
pois ele diz: “No momento favorável, eu te
ouvi e no dia da salvação, eu te socorri”.
É agora o momento favorável, é agora
o dia da salvação” (2Cor 6,1-2).

Amados irmãos e irmãs, leitores e leitoras, peregrinos rumo à pátria definitiva:

O ciclo litúrgico vivido pela Igreja católica nos traz de volta à Quaresma, isto é, à paixão e cruz do Senhor Jesus que, por sua vez, acendem nossas esperanças nas celebrações da sua Páscoa e Ressurreição. Em tal contexto de vivência litúrgica, aos discípulos e seguidores dEle cabe “atualizar” a mensagem deste “tempo favorável” que é a Quaresma. Por “atualizar” entendemos aqui estar abertos e disponíveis à “força do Espírito” que, como a Jesus na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4,14-21), nos impele a mostrar ao mundo de hoje, à sociedade de hoje, à cultura de hoje, aos homens e mulheres de hoje, por palavras e pelo testemunho de vida, a sua identidade e missão. Com tal motivação, proponho-lhes alguns pontos que podem nos ajudar na caminhada quaresmal prestes a se iniciar no próximo dia 17 de fevereiro, tempo de “cinzas”, isto é, tempo de jejum e penitência, tempo de esmola e oração, em fim, tempo de conversão. Nossa reflexão parte de algumas indagações: Como “atualizar” em nossa vida, fortalecidos pela “força do Espírito”, o tempo quaresmal? Como praticar o jejum, a penitência, a esmola e oração em pleno início do século XXI? Qual o segredo para “não receber em vão a graça de Deus”?
1. Quaresma, Jejum e Penitência. Preservada a tradição da Igreja no que diz respeito às prescrições do jejum e abstinência de carne visando à santificação e ascese pessoais através da penitência corporal, tomamos consciência da necessidade de introduzir nesta prática secular alguns elementos importantes na vivência da Quaresma nos tempos de hoje. Numa sociedade sempre mais consumista e hedonista, o jejum e a abstinência de carne são, por sua vez, uma forma de partilha e solidariedade com os milhões de irmãos e irmãs, homens, mulheres, crianças e jovens que são afligidos pela exclusão, pelo abandono ou pela fome. Aliás, é de se observar que, na nossa sociedade, até o jejum e a abstinência prestam-se ao culto ao corpo, pois a eles se submetem as pessoas, sobretudo as mais jovens, para alimentar a vaidade exibindo um corpo dito “enxuto”, com isso querendo ostentar somente a beleza física. Mas nós, superando tais motivações, somos todos convidados e motivados por outras formas de jejum e abstinência. Por exemplo, a) jejum do desperdício que prejudica milhares e milhares de outros seres humanos carentes daquilo que, com enorme facilidade e, infelizmente, até por costume, jogamos no lixo e abstinência do esbanjamento escandaloso por parte de alguns, enquanto outros milhares suplicam uma migalha, como Lázaro à porta do “rico que se vestia com roupas finas e elegantes e dava festas esplêndidas todos os dias” (cf. Lc 16, 19-31); b) jejum de TV, evitando programas e mensagens que, subliminarmente, chegam a distorcer e a deformar até nossa mentalidade cristã e abstinência de horas seguidas mergulhados na Internet sem qualquer proveito, pelo contrário, com enorme perda de tempo e exposição a inúmeras ocasiões de perversão de mentalidade; c) jejum de shoppings, que hoje se apresentam como novos templos da vaidade e de gastos supérfluos e abstinência de outros locais de consumo abusivo por impulso ou por ganância, prejudicando com isto não só a vida pessoal, mas também a das famílias, especialmente na formação das crianças e dos jovens; d) jejum da mente, deixando de lado os juízos temerários no julgamento do próximo e abstinência da língua ferina e maledicente, esforçando-se para cultivar a pureza de mente inspirada no perdão e na generosidade ensinados por Jesus: “não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados” (Lc 6, 37); e) jejum do coração, orientando os nossos afetos à imagem do próprio amor de Deus e cuidando para que os nossos “amores” se mantenham orientados para o bem e o crescimento daqueles aos quais os dirigimos.
2. Quaresma, Cinzas e Esmola. Desde o Antigo Testamento, as cinzas lembram a pequenez, a miséria e as limitações da pessoa humana em contraposição à grandeza e à infinitude de Deus. Querendo reconhecer todos estes atributos de Deus, seu povo, os israelitas, como sinal de arrependimento pelos pecados, revestia-se de cinzas “desde o rei até os animais” (cf. Jonas 3,5-10). A Igreja lembra este costume no início da quaresma, impondo sobre a cabeça dos fiéis a cinza obtida com a queima dos ramos bentos no Domingo de Ramos do ano anterior. Portanto, ao receber as cinzas, o católico faz um gesto de humildade, arrependimento, desprendimento e renúncia. Por isso, temos que redimensionar o termo “esmola” tornando-o a sua prática menos assistencialista ou paternalista apenas por dó de quem a pede e muito mais construtora de uma sociedade justa e solidária. De fato, nos dias de hoje, não é o bastante estender a mão com algumas moedas atiradas ao mendigo que se arrasta pelas calçadas e sarjetas das ruas de nossas cidades só para se livrar dele (ainda que, em algumas situações, essa seja a única forma de socorro imediato ao faminto), mas são necessárias atitudes mais conscientes e perseverantes de promoção humana. A esmola ou, melhor, a ajuda, seja ela qual for, ao próximo pobre e excluído é um gesto concreto de solidariedade e renúncia de que já falamos acima. Gesto que deveria ser constante na vida do cristão. Cinzas, portanto, não é sinal mágico ou apenas para cumprir um ritual. Quem recebe as cinzas obriga-se a dar testemunho de caridade e de partilha.
3. Quaresma e Oração. Se há um “tempo favorável” que deveríamos aproveitar mais intensamente para fazer a experiência de um contato íntimo com Deus, é o tempo quaresmal. Primeiramente, uma experiência pessoal. E, sobretudo, uma experiência comunitária de oração. Todos os momentos litúrgicos durante a Quaresma são de profunda intensidade para fazermos a experiência de um contato de intimidade com o Pai, através de Jesus, Mediador e inspiração do Espírito Santo. Julgo oportuno lembrar o saudável e piedoso exercício da Via-Sacra que se costuma percorrer durante a Quaresma.
4. Quaresma e conversão. Quase como uma síntese de todas as considerações que propusemos até aqui, aparece a experiência da conversão que é tantas vezes lembrada durante a Quaresma. E, agora, na América Latina, apresenta-se uma nova dimensão deste processo que exige, além da conversão pessoa -, isto é, de uma mudança de mentalidade da pessoa - uma conversão pastoral de toda a comunidade eclesial. O Documento de Aparecida vem-nos lembrar que “A conversão pessoal desperta a capacidade de submeter tudo a serviço da instauração do reino da vida. Os bispos, presbíteros, diáconos permanentes, consagrados e consagradas, leigos e leigas, são chamados a assumir uma atitude de permanente conversão pastoral, que envolve escutar com atenção e discernir “o que o Espírito está dizendo às Igrejas” (Ap 2,29) através dos sinais dos tempos nos quais Deus se manifesta” (DA 366).
5. Quaresma e Campanha da Fraternidade (CF) 2010. Na Igreja Católica do Brasil já é tradição de longos anos celebrar, durante a Quaresma, a CF que, neste ano será ecumênica, isto é, com a participação de outras igrejas cristãs. Cada Diocese do Brasil, cada Paróquia, cada Comunidade eclesial, cada católico deve engajar-se com entusiasmo a CF deste ano, levando em conta que é um dos momentos de maior intensidade para nossa reflexão e concreta ação missionária. Neste ano a CF terá como lema: “Não podeis adorar a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24), e como Tema: “Economia e Vida” .
Desejando a todos os meus amados leitores e leitoras uma santa peregrinação quaresmal, transcrevo, para reflexão, a bela e significativa “oração sobre as oferendas” da Quarta-feira de Cinzas: “Oferecendo-vos este sacrifício no começo da Quaresma, nós vos suplicamos, ó Deus, a graça de dominar nossos maus desejos pelas obras de penitência e caridade, para que, purificados de nossas faltas, celebremos com fervor a paixão do vosso Filho”. A todos o abraço fraterno do irmão, amigo e servidor em Cristo Jesus;


Pe. Jose Gilberto Beraldo
Assessor Eclesiástico Nacional
beraldomilenio@uol.com.br

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